VENEZUELA E MERCOSUL
No último dia 31 a
Venezuela foi incorporada oficialmente no Mercosul. Com essa adesão, o
bloco passa a ser composto por 5 membros plenos, e mais alguns
associados. Com isso o bloco atinge a colocação de 5a economia do mundo.
Como tudo que envolve o governo Chavez, a decisão é polêmica. Devemos
refletir que a Venezuela é um país, não um governo. Atualmente é Chavez
quem está no poder, mas as eleições se aproximam e esta situação poderá
ser alterada. O próprio tema das eleições é polêmico, a oposição teme fraudes
ou manipulações. Por outro lado, em algum momento Chavez deixará o poder. Além
disso, ainda nos fatores positivos, o bloco se torna gradualmente uma potência
petrolífera. O Brasil tem o pré-sal, a Venezuela tem uma grande reserva e
produção (e é da OPEP) e a Argentina também tem reservas recentemente
estatizadas (outra polêmica). O mercado interno do bloco também aumenta, o que
pode favorecer nossa indústria e fortalecer o comércio regional. Interessa para
qualquer economia fortalecer e diversificar seus laços comerciais. Já há planos
para a exploração conjunta de reservas petrolíferas na Venezuela (Vale do
Orinoco). A Venezuela tem um parque industrial pouco desenvolvido (exceto
pelo petróleo) e no mesmo dia 31 firmou a compra de aviões
brasileiros, o que favorece o Brasil.
Os pontos negativos se
concentram na figura de Chavez, que toma medidas consideradas autoritárias e
populistas. O país é extremamente dividido, há apoiadores e opositores
fanáticos quando o assunto é o governo. Resta saber também qual será a posição
dos EUA, se é que tomarão alguma posição em ano de eleições.
Recentemente o Mercosul tem
sido simplesmente ignorado por Washington. Apenas para se ter uma idéia, a
última vez que a palavra “Mercosul” apareceu no site do departamento de Estado
dos EUA foi em 2009, o que mostra que o bloco por enquanto não é visto nem como
ameaça, nem destaque. Porém, como Chavez frequentemente entra em atrito com os
EUA, a entrada da Venezuela no bloco pode mudar isso. É fundamental lembrar que
os EUA ainda são e serão por algum tempo uma grande potência e grande mercado.
São também nosso segundo parceiro comercial (o primeiro é a China). Agora é
esperar para ver se haverá ou não uma reação. Tal reação pode não ocorrer já
que o momento é de crise econômica e não interessa aos EUA hostilizar os
regimes da região, mas isso depende das estratégias de curto, médio e longo
prazo do governo estadunidense. A briga Caracas x Washington também deve ser
relativizada, já que apesar dos discursos, os EUA compram petróleo da
Venezuela.
Para finalizar a
aceitação da Venezuela é polêmica pois o senado paraguaio sempre foi
contra tal entrada. Devido à crise que depôs Fernando Lugo, o Paraguai está
suspenso do Mercosul até a próxima eleição (que deve ocorrer em 8 meses).
A escolha de suspender o Paraguai foi uma decisão política pois o Mercosul tem
uma cláusula que proíbe a adesão de regimes não democráticos. Por isso a
suspensão até as próximas eleições que, uma vez realizadas, trarão de volta o
Paraguai (sob o ponto de vista dos governos vizinhos) ao campo democrático.
O centro da questão é: se o
que ocorreu no Paraguai foi golpe (e esse é um posicionamento político, uma
opinião), o mais correto seria esperar a volta do país ao bloco para decidir
sobre a adesão venezuelana. Ao não esperar esse retorno, os mesmos países que
consideraram o impeachment como golpe, de certa forma deram um golpe também ao
aproveitar o momento. É sabido que o Paraguai é contra, o justo seria esperar o
retorno paraguaio se formos pensar em termos de coerência. Pela regra, a
aceitação de novos membros deve ser consensual, e o senado paraguaio já
divulgou uma nota de repúdio.
Texto: Profª Zilda
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