O Coronelismo
O coronelismo foi uma experiência típica
dos primeiros anos da república brasileira. De fato, essa experiência
faz parte de um processo de longa duração que envolve aspectos
culturais, econômicos, políticos e sociais do Brasil. A construção de
uma sociedade vinculada com bases na produção agrícola latifundiária,
desde os tempos da colônia, poderia contar como um dos fatos históricos
responsáveis pelo aparecimento do chamado “coronel”.
No período regencial, a incidência de
levantes e revoltas contra a nova ordem política instituída concedeu uma
ampliação de poderes nas mãos dos proprietários de terra. A criação da
Guarda Nacional buscou reformular os quadros militares do país através
da exclusão de soldados e oficiais que não fossem fiéis ao império. Os
grandes proprietários recebiam a patente de coronel para assim
recrutarem pessoas que fossem alinhadas ao interesse do governo e das
elites.
Com o fim da República da Espada, as
oligarquias agro-exportadoras do Brasil ganharam mais espaço nas
instituições políticas da nação. Dessa maneira, o jogo de interesses
envolvendo os grandes proprietários e a manutenção da ordem social
ganhava maior relevância. Os pilares da exclusão política e o controle
dos grandes espaços de representação política sustentavam-se na ação dos
coronéis, na esfera local, os coronéis utilizavam
das forças policias para a manutenção da ordem. Além disso, essas mesmas
milícias atendiam aos seus interesses particulares. Em uma sociedade em
que o espaço rural era o grande palco das decisões políticas, o
controle das polícias fazia do coronel uma autoridade quase
inquestionável. Durantes as eleições, os favores e ameaças tornavam-se
instrumentos de retaliação da democracia no país.
Qualquer pessoa que se negasse a votar
no candidato indicado pelo coronel era vítima de violência física ou
perseguição pessoal. Essa medida garantia que os mesmos grupos políticos
se consolidassem no poder. Com isso, os processos eleitorais no início
da era republicana eram sinônimos de corrupção e conflito. O controle do
processo eleitoral por meio de tais práticas ficou conhecido como “voto
de cabresto”.
Essa falta de autonomia política
integrava uns processos onde deputados, governadores e presidentes se
perpetuavam em seus cargos. Os hábitos políticos dessa época como a
chamada “política dos governadores” e a política do “café-com-leite” só
poderiam ser possíveis por meio da ação coronelista. Mesmo agindo de
forma hegemônica na República Oligárquica, o coronelismo tornou-se um
traço da cultura política que perdeu espaço com a modernização dos
espaços urbanos e a ascensão de novos grupos sociais, na década de 1920 e
1930, apesar do desaparecimento dos coronéis,
podemos constatar que algumas de suas práticas se fazem presentes na
cultura política do nosso país. A troca de favores entre chefes de
partido e a compra de votos são dois claros exemplos de como o poder
econômico e político ainda impedem a consolidação de princípios morais
definidos nos processos eleitorais e na ação dos nossos representantes
políticos.
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