segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mineração


A MINERAÇÃO NO BRASIL COLONIAL

           O CICLO DO OURO

           A mineração no Brasil colonial se estendeu basicamente de meados do século XVII a meados do século XVIII, sendo Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso os principais centros de extração. Inicialmente, o ouro foi encontrado na forma de aluvião, nos fundos e nas barrancas de rios. No final do século XVII e início do XVIII, foram encontrados os primeiros veios auríferos: Antônio Rodrigues Arzão descobriu as jazidas de Caetés, em 1693, Pascoal Moreira Cabral em Cuiabá, em 1718 e Bartolomeu Bueno da Silva Filho em Goiânia, em 1725.
Dois tipos de exploradores se destacam. O pequeno, com pouco investimento inicial e trabalho nômade, usando equipamentos de baixo custo, como a bateia ou a peneira para a catação ou faiscação de pequenas peças. As lavras eram empresas maiores, usando o trabalho escravo em maior escala. Diferente das jazidas da América Espanhola, que exigiam elevados investimentos e técnicas,
 
O OURO, A FOME E O MERCADO INTERNO

Tanto na faiscação como nas lavras, o trabalho era altamente especializado e exigia dedicação exclusiva. Nos engenhos de açúcar, embora o trabalho também seja especializado, havia a produção de alimentos e de outros produtos na mesma fazenda, um latifúndio. O minerador não era, ao mesmo tempo, produtor de alimentos e de quaisquer outros produtos além do ouro.
Por isso, a região mineradora tornou-se mercado consumidor de várias mercadorias, dinamizando a economia e integrando várias regiões do país. Pela primeira vez na História do Brasil, constituiu-se um mercado interno, resolvendo ou amenizando graves crises de abastecimento ocorridas entre 1697 e 1701 nas áreas mineradoras. Segundo um estudioso, em 1698, o governador do Rio de Janeiro informava à Coroa que a carência de mantimentos era tão crítica que muitos mineiros tinham sido obrigados a abandonar suas jazidas de ouro e estavam errando pelas matas com seus escravos em busca de caça, peixes, frutas, a fim de se alimentarem.´ Em poucos anos, a mineração transformou o Centro-Oeste na Meca das atividades coloniais. Para lá fluíram escravos, mantimentos, carne, artesãos, técnicos, aventureiros. Os antigos centros litorâneos (Rio de Janeiro, Olinda, Salvador e outros) passaram a sofrer a escassez de mercadorias, de alimentos e até de trabalhadores, livres ou escravo

O OURO E A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

Uma das maiores consequências da mineração foi o acelerado crescimento demográfico da população no Brasil, com a chegada de muitos portugueses e muitos escravos. No século XVI, a população mal chegava aos 100.000 habitantes, chegando a 300.000 no século XVII, dos quais 200.000 eram escravos. No século XVIII, com a mineração, atingiu 3.300.000, sendo 1.200.000 escravos. Índios não integrados ao sistema não são contabilizados. Importante acrescentar o porcentual de escravos em relação à população livre: no século XVII, constituíam 63% do total e, no XVIII, apenas 36%. O que ocorreu foi a chegada de um enorme contingente de portugueses. De três a quatro mil saíam anualmente da metrópole em direção ao Brasil, especialmente para a região das minas. Para Portugal, o fenômeno foi tão preocupante que, em 1720, o rei passou a controlar a saída de portugueses.” A sede insaciável do ouro estimulou a tantos deixarem suas terras e meterem-se por caminhos tão ásperos como o das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número de pessoas que atualmente lá estão (...)”. 
 
O OURO E A ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA

Para Portugal, administrar significava fiscalizar. A legislação sobre a mineração era minuciosa e opressora. Um órgão foi criado em 1702, a Intendência das Minas, responsável, entre outras coisas, pela distribuição das datas em regiões auríferas. Em 1720, foram criadas as Casas de Fundição, para transformar o ouro em barras e cobrar impostos, principalmente o quinto, numa tentativa de eliminar o contrabando de ouro em pó e em pepitas, proibido de circular. Além do quinto (20%), havia a finta (cobrança fixa em ouro) e a capitação (cobrança por cabeça de escravo). Em 1750, em plena decadência da produção devido ao esgotamento das minas, foi extinta a capitação, mas fixado um tributo mínimo de 100 arrobas anuais por região, ou seja, um imposto de uma tonelada e meia em ouro. Caso tal quantia não fosse atingida, o rei poderia decretas a derrama, cobrança de impostos em atraso, que previa, inclusive, o confisco de bens dos devedores pela Coroa. Por outro lado, o eixo econômico e demográfico se transferia do Nordeste açucareiro decadente para o Centro-Sul em expansão. Soma-se a isso que as hostilidades entre portugueses e espanhóis no Sul do Brasil, envolvendo as disputas pelos Sete Povos das Missões e pela Colônia do Sacramento. Por isso, a capital do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. Naqueles anos, a administração portuguesa tinha D. José I como rei e seu ministro, Pombal. Aplicava-se em Portugal e em suas colônias o racionalismo proposto pelo iluminismo, embora o Estado continuasse a ser absolutista. Era o chamado Despotismo Esclarecido

O OURO, REVOLTAS DE ESCRAVOS E QUILOMBOS

A escravidão em si já é uma violência. Essa não é apenas uma visão nossa, do século XXI. É, acima de tudo, uma visão de quem era, na época, escravizado. A tal violência soma-se a grave fome sofrida por todos os envolvidos no processo do início da mineração, nos finais do século XVII e início do XVIII. Pela lógica do sistema escravocrata, quem mais sofria era, evidentemente, o escravo. Diz a sabedoria popular que onde há fome, não há lei´. Muitos escravos agiram individualmente contra a situação de penúria e passaram a roubar e a matar por comida. Porém, muitos se rebelaram coletivamente, fugindo e formando inúmeros quilombos. 
 
            Fonte: http://poetawagner.blogspot.com
Texto: Kassio Rafael

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